Nem adianta querer desconversar, porque a sociedade, seja ela brasileira ou mundial, de fato, não tem tolerância a feiúra. Tanto é que a primeira aparição de Susan Boyle, considerando aqui a admiração do público, relembra mesmo o personagem Brás Cubas, de Machado de Assis, desencantado com Eugênia, bela moça, porém coxa de uma perna. O fato de a garota mancar, faz Brás Cubas mergulhar na célebre indagação: “Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?”, numa clara alusão de que as deformidades não deveriam combinar com qualquer traço de beleza.
No caso de Susan Boyle, é bem provável que algumas pessoas tenham até chegado a dizer que Boyle, aquela senhora “feiosinha” que apareceu cantando para uma banca de jurados boquiabertos, pudesse vir a ser o símbolo mais perfeito e atualizado da luta contra o preconceito. Tanto é que na internet sua apresentação foi um dos vídeos mais circulados dos últimos meses, acompanhado inclusive do título “as aparências enganam”, bela frase, embora um tanto desgastada pela hipocrisia e intolerância humana. Em termos de Susan Boyle, se as aparências enganavam, não enganam mais, porque a nova cara que a cantora recebeu diz justamente o contrário: o preconceito mais uma vez venceu.
Essa constatação é uma prova cabal de que a sociedade é arrogante e que, para aceitar alguém, impõe suas normas, seus moldes de beleza. Isso é tão verdadeiro que, depois da saída de Boyle do programa Britain's Got Talent, o primeiro tópico de sua agenda foi cumprido justamente numa clínica de reparos estéticos. O motivo, claro, não poderia ser outro: cuidar de eliminar aqueles traços grotescos que tanto causaram incômodo e riso na platéia embasbacada na ocasião de sua primeira apresentação. E como o leitor pode conferir na foto, a clínica, de fato, conseguiu feitos prodigiosos. Eliminou aquela antiga expressão de ingênua senhora e colocou no lugar um pouco da altivez britânica. É claro, o figurino ajudou, pois deu a ela um ar de eruditismo. Não sabemos como pensaram os idealizadores da carreira de Boyle, mas certamente julgaram que não fosse digno uma bela voz ocupar um corpo com formas tão desgraciosas.
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