A Escola não é remédio para todos os males. O que digo aqui é de foro íntimo, já que começo a perceber que ela, a Escola, a pretexto de ser tudo, não vem conseguindo ser nada, ou talvez, quase nada. Não bastasse isso, para piorar, os profissionais da área andam meio que atacados de certa crise de identidade, de modo que muitos deles nem sequer admitem mais serem chamados de professores, preferindo serem reconhecidos como legítimos "educadores".
Mas, afinal de contas, o que há por trás de tudo isso? Logo de princípio, penso que o professor não conhece a dimensão do problema e nem percebe a armadilha na qual está se metendo com suas ideologias e excessos de afetividade, carregando para si a responsabilidade que, definitivamente, não é somente sua. O professor é sim um professor. É, aliás, um sujeito que prepara situações em que o aluno possa vivenciar um conjunto de práticas onde se encontram inseridos o treinamento, o repasse da cultura, a construção de conceitos. É no desenvolvimento dessas habilidades que aparece a educação, seja por reflexo ou até mesmo por refração.
É importante entender que a Escola é apenas um elemento a mais dentro de um macro-sistema que denominamos Educação. Educar é uma responsabilidade conjunta e nessa tarefa devem fazer-se presente a Família, o Estado e suas Leis, a Indústria Cultural, o Mercado e assim por diante. À Escola, propriamente dita, cabe a terefa de produzir conhecimento e preservar o ensinamento desses saberes que foram historicamente adquiridos. Dessa maneira já estará contribuíndo de forma significativa para a Educação. A Escola, não me canso de repetir, é um espaço do conhecimento e a educação que ela pratica deve aparecer por consequência e não como finalidade exclusiva. Isso porque, o professor não tem e nunca terá mesmo segurança sobre o fruto de seus ensinamentos, ou seja, no que dará aquilo que vier aplicar em sala de aula, por mais árdua e dedicada que tenha sido sua tarefa. Ademais, como nas palavras do poeta Catulo da Paixão Cearense "a nossa terra Brazí já tem munta inteligença, muntos hôme de sabença que só dá pra espertaião!"
Essa ideia de confundir Escola e Educação é uma maldade sem precedente. É uma ignorância tamanha. Como disse anteriormente, é uma armadilha. O pior é que isso parece estar se consolidando como verdade. Certo dia mesmo, assistindo a um programa domingueiro, deparei-me com um poeta popular declamando um texto que era um misto de prosa e poesia cordelista que trazia no bojo, como vocativo, a palavra professor. O poema era um amargo desabafo de um caipira, um daqueles sujeitos que "deitam o couro no serviço pra fazer filho estudar".
O eu-lírico, aquela voz reclamante, dizia que sua filha desejava ser professora e por isso teria saído da roça sozinha, autorizada e financiada pelo suor do pai, para ir morar na cidade onde continuaria os estudos. Sucedeu, porém, que a garota não suportou os encantos da vida urbana e aprendeu logo a usar salto alto, a cobrir os lábios com batom e a relacionar-se sexualmente. De volta ao lar, porque todos os filhos pródigos um dia voltam ao lar, o pai rancoroso a expulsa disposto a nunca mais vê-la. E assim termina a poesia do poeta magoado com uma pergunta desaforada ao professor, questionando-o nos seguintes termos: "é isso que você chama Educação?
Um outro exemplo veio do interior de um ônibus. Ali, certa vez, uma professora presenciou uma criança respondendo a mãe de forma agressiva e petulante. Diante daquilo a mãe, para eximir-se de sua culpa na frante dos demais passageiros, tasca o maldoso comentário: "vou lá na escola perguntar à sua professora se é esta a educação que ela anda lhe dando".
Repare, nesses exemplos, em que abismo os professores estão metidos de ponta-cabeça! É muito simplista colocar a culpa em um sistema que já não se sustenta com o peso da responsabilidade e com o descaso do Estado. E não dá para debater o assunto pelos afetos da alma. Tem muita gente ganhando dinheiro vendendo livros e palestras com suas histórias de sofrimento e superação, graças ao carinho, a afetividade e atenção deste ou daquele coração generoso. Mas é necessário frieza e racionalidade, sem nos deixarmos tocar pelas histórias tristezinhas de recuperação marginal... (não acabou não! Continua nas próximas horas).
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