abordagem dos principais fatos da cidade

Os perigos do otimismo

No início do século passado, quando os futuristas propuseram demolir as bibliotecas, os museus e o modelo de cultura vigente, a idéia parecia um tanto absurda. A proposta, entretanto, tinha sua razão de existir, já que eles, os futuristas, acreditavam que a literatura produzida até aquela época teria servido apenas ao propósito de enaltecer a imobilidade, o sono, desse modo, abrindo espaço para toda a sorte de oportunistas e utilitários.

Mas o que pensariam os futuristas de hoje, com suas idéias completamente radicais, tendo de conviver com tanta produção anestesiante – estou falando dos livros de auto-ajuda, dos programas televisivos, da mídia barata e da imprensa de menor valor, puramente sensacionalista – cuja finalidade é a de silenciar o sujeito diante das grandes demandas políticas e sociais e de acomodá-lo num estado de nulidade perene?

Os futuristas, com efeito, eram aparentemente exagerados e, movidos por uma vontade maluca de higienizar o mundo. Mas, caso vivessem na presente atualidade, os enaltecedores da velocidade e da guerra viveriam aos socos com toda essa produção de supostas “obras-primas” completamente desprovidas de qualquer tipo de agressividade verbal.

Na bancazinha de revista da esquina ou na livraria mais conceituada da cidade, os teóricos da auto-ajuda têm sempre presença garantida. Os autores são muitos e se acotovelam para garantir espaço, produzindo uma infinidade de dinâmicas para que o homem aprenda a sorrir e expressar a felicidade a qualquer custo, independente dos percalços por que seu leitor estiver passando. A TV limita-se às peculiaridades da vida diária, reproduzindo cavernas em repetitivas cenas. Os jornais são cada vez mais gratuitos, no sentido mais amplo da palavra. E, na escola, o negócio agora é ensaiar dinamicazinhas, com o fim de eliminar o demônio do tédio, no qual o sujeito, “cristão bão”, nem sabe que está metido. Daí, se algo não dá certo, a culpa é exclusiva desse mesmo indivíduo. É ele afinal que, nos dizeres do otimista, não encara a vida com mais positividade, mais otimismo.

O fato é que vivemos um período em que o otimismo virou uma espécie de panacéia: é remédio para todos os males. Não raro a gente encontra alguém comentando coisas do tipo “Eu li um livro tal que me orientava como ser feliz de uma maneira tal”; ou, de outra maneira caricatural, mais ou menos assim: “Estou aprendendo muito com o livro ‘como viver na merda sem perder a etiqueta’”. E percebo que, diante desse quadro, o sujeito nem pode mais curtir um acabrunhamento, tão importante para sua madureza intelectual, que chega logo alguém, dedo indicador em riste, recomendando: “leia fulano de tal, ou o sicrano, ou o beltrano”. “Você vai melhorar. Vai virar outro ser humano”. Pode uma coisa assim?

A coisa está de tal maneira que muitos acreditam que o otimismo seja a alavanca do sucesso. Poucos conseguem compreender que a ideologia do otimismo não passa de uma necessidade de mentira, uma inspiração de fraqueza que pressupõe uma fuga da realidade. O pior defeito do otimista é achar que nada deve ser mudado, porque “em time que está ganhando não se mexe”. E o pior: o mundo é tão irônico com o otimista... Mas o otimista, sempre um fraco, o acha perfeito, colorido, pois não compreende as ironias nem os ironistas.

Na última copa, por exemplo, Parreira foi o mais otimista dos técnicos. Fez uma dinâmica de grupo com os jogadores usando a música “Epitáfio”, dos Titãs. Não compreendeu, porém, seu conteúdo irônico e perdeu. De outra maneira, as escolas não compreendem a ironia dos gráficos escolares. O sistema vive uma relação de promiscuidade com a estatística, o que exclui a realidade composta por alunos que não aprendem, professores que não ensinam e escolas que não oferecem condições humanas de trabalho e de aprendizagem. E quando os gestores do sistema sentem um cheiro fétido pairando no ar, contratam a peso de ouro aquela assessoria educacional, acostumada a repetir dinâmicas, que garante expurgar o pessimismo geral. Esse talvez seja um dos piores problemas enfrentados pela pedagogia atual.

Há uma cobrança cada vez maior para que o homem, sendo ele professor, deixe de ser pessimista e passe a encarar tudo com um olhar cândido, capaz de enxergar matizes coloridas numa nebulosa, como se isso significasse que, apenas com o otimismo, a vida estivesse disposta a tomar melhores rumos.

Mas o que há, afinal, por detrás dessa maciça ideologia do otimismo que se impõe sobre nós? Quem ganha com essa onda de insuflar o homem feito bexiga, a fim de fazê-lo envergonhar de si mesmo pelo seu pessimismo, o obrigando a acreditar em tudo? Na linha do otimismo, a figura mais comum é a do político, sempre um sorridente, querendo nos convencer de sua preocupação com a nossa existência precária, quando verdadeiramente o que ele deseja é juntar para si a maior quantidade do “vil metal”. É comum escutarmos um otimista dizer que o político tal fez muita coisa, mas não é assim que se analisa o homem na vida pública.

Independente do que esse ou aquele político tenha feito, o que devemos avaliar é o seu patrimônio. Afinal de contas, que político tem calculadora mágica todos já sabemos. Só ele gasta 6 milhões para obter um mandato de 4 anos a um salário mensal de 5 ou 10 mil reais. Nem milagre explica isso. Mas, ainda assim, apesar dos milagres de cálculo, é conveniente avaliar como foi o crescimento de sua fortuna. Isso significa dizer que a desculpa de que fulano rouba mas pelo menos faz alguma coisa é retórica de otimista medíocre e patife.

Quanto a isso, o melhor é aprendermos com Nietzsche, que nos ensina a ser cautelosos ante toda e qualquer palavra ou ação grandiosa, o que significa dizer que devemos ser pessimistas diante dos grandes homens públicos. Mas devemos entender esse pessimismo como uma espécie de libido, como pulsão de vida, como autodefesa. É preciso que saibamos de antemão que as questões relativas à política, à ordem social, à educação na boca do otimista aparecem falsificadas até a raiz. É preciso que não tomemos por grandes os homens mais perniciosos, detentores do capital e da rápida fortuna.

Enfim, é necessário que sejamos pessimistas até a raiz dos cabelos para que possamos construir um mundo melhor. Os homens que governam nossa república não nos devem ter como figuras cheias de crendices, cândidas, ou otimistas. Nietzsche afirma que os piores anos de sua vida correspondem àqueles em que ele deixou de ser pessimista. Portanto, ser pessimista não é nenhum defeito de espírito, mas um sentimento de autopreservação que precisa ser cultivado. Afinal, a ideologia do otimismo, que muitas vezes se apóia no discurso religioso, político, publicitário, na literatura chã e na imprensa de menor caráter, pinta o mundo de acordo com os valores econômicos e ideológicos de uma minoria que comanda e que segrega do capital a maioria. É, pois, próprio da ideologia do otimismo construir uma sintaxe de aparências estáveis. Mas tenham em conta que é por detrás desses discursos otimistas que o mal geralmente se acoita. No mais, é muito importante ao homem lembrar que, como aparece na escrita de Nietzsche, “a palavra mais grosseira ainda é a mais bondosa, mais honesta do que o silêncio” tão peculiar ao otimista. 

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