POR QUEM OS HOLOFOTES CLAMAM?

 

Mas falemos de Brasil, onde convivemos diariamente com um trânsito cada vez mais brutal, estádios de futebol que viraram verdadeiras arenas de gladiadores truculentos - onde o evento esportivo é o menos importante -, noites em que o barulho não deixa sequer um hospital descansar em paz - quer seja pelos sons automotivos, estridentes e de péssimo gosto -, quer seja pelos alarmes dos estabelecimentos e veículos que disparam e não são desligados; sem dizer do barulho enorme da insensatez, que parece não incomodar as adormecidas consciências, portadoras de um mal de Alzheimer inexorável e progressivo, nas quais desvanecem-se os valores adquiridos por uma educação, de casa e a formal, se é que as tiveram, se é que servem para alguma coisa hoje em dia. Se não gerar dinheiro, não presta.

Enquanto isso, mandatários perpetram mais maneiras vis de vilipendiar o povo, bancos arquitetam planos de lucratividade líquida para ultrapassar outros bancos, cartéis conchavados com o poder achincalham as leis e ditam preços ao seu bel prazer (claro! a cornucópia dos impostos gritantes garante a farra governamental!). E do lado fraco, empresários honestos buscam enxugar freneticamente seus custos devidos à extorsão dos impostos - que não voltam em forma de direitos garantidos na Constituição, como segurança e saúde (só para ficar por aqui) -, e o resto, mão-de-obra cada vez mais explorada, se arma com o que pode para defender o seu escasso ou quase inexistente patrimônio - pelo qual paga também taxas pornográficas e sem retorno social, conforme já dito acima - e acaba enxergando quem está do seu lado apenas pelo prisma do acéfalo status social, ou como um simples empecilho a ser removido ou espoliado. A pergunta não é mais 'quem é ele?' e sim 'o que ele tem?'.

Em pleno século XXI o homem vai saindo da vida e a flauta de Hamelin do sistema reinventa, com o mesmo tema, várias outras melodias globalizadas, e vai dominando-o, sem muito esforço, fazendo-o enquadrar-se na mais solitária das buscas: meu espaço, meu carro, meu computador, meu fone-de-ouvido, minha balada, meu dinheiro. E como poucos conseguem respirar a custos altíssimos, outros, mais fracos e desorientados, sucumbem aos diversos vícios, destruindo famílias e a própria vida, gerando assuntos que atulham os meios de comunicação e, por mais banais que já possam parecer, vemo-nos na plateia dos espetáculos fulgurantes e momentâneos, porém pontuais e sem medidas reparadoras do exposto, pois amanhã, para delírio de todos, um novo teatro de horrores vai estrear.

Cuidemo-nos: sob os holofotes da profecia de George Orwell - esse show insensível, inócuo e lastimável do vazio humano -, o próximo nome nos letreiros, e esquecido rapidamente, poderá ser o nosso.